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Cinco Sugestões de Quadrinhos para Adotar no Ensino-Aprendizagem da Língua Portuguesa para Surdos

Foto do escritor: THAYSA FERREIRA DE ALMEIDATHAYSA FERREIRA DE ALMEIDA


Rodrigo Sérgio Ferreira de Paiva



Um dos pilares postulados pela Base Nacional Comum Curricular, atual documento normativo da Educação Básica no Brasil, é a prescrição de que alunos compreendam as linguagens e façam uso dos diversos gêneros textuais/discursivos. O componente curricular da Língua Portuguesa, já previsto nos Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1998), propõe diferentes campos de atuação para orientar o desenvolvimento das aprendizagens em contextos distintos. O uso das Histórias em Quadrinhos enquanto ferramenta estratégica e pedagógica de educação bilíngue supre, de forma parcial e heterogênea, a escassez de materiais paradidáticos concentrados na consonância entre o português e a Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS, contornando o uso dos moldes tradicionais, geralmente com práticas homogeneizadoras que desconsideram as singularidades linguísticas inerentes e os estímulos visuoespaciais necessários para devida intelecção do sujeito surdo.

O potencial paradidático das HQs no ensino idiomático, vistos na atualidade com menos desconfiança e indiferença do que antes, se intercala com os ininterruptos desafios enfrentados pela comunidade surda: vê-se propostas de educação bilíngue restritas a premissas básicas, além da objeção do docente em instruir uma segunda língua (L2) sem que a primeira (L1) seja obliterada ou sobreposta. Ocorre que “a experiência visual dos surdos não tem sido objeto de análise nem tido espaço especial nos projetos de educação e escolarização dos surdos”. (Lebedeff, 2010, p. 176). Em outros termos, se ausentam práticas e estratégias de letramento visual, com a exceção de tímidas incursões (idem) que incluem a leitura de tiras ou pequenos trechos de HQs nos livros e apostilas escolares.

Há também uma reflexão identitária, que se fortifica pela ausência de ícones representativos nas produções lúdicas, de teor cultural, e valores próprios, referentes à maneira como a pessoa surda decodifica o mundo e estabelece diálogo com a sociedade. Nesse viés, o entendimento de LIBRAS transcende o aspecto funcional para compor uma política de inclusão. Entre surdos, a L2 costuma se direcionar à Língua Portuguesa nos países em que o português se predomina. Intercorre que esses sistemas linguísticos se distinguem, dentre outras razões, pela ausência de conectivos concretos entre os símbolos (gestos), como vê-se no português: conjunções, advérbios, preposições, expressões adjetivas e algumas conotações verbais. Todavia, aprender uma segunda língua é um processo desafiador por si só, decorrente da existência de uma base de dados multiforme a ser assimilada no decorrer de toda uma vida.

O bilinguismo como enquadramento essencial para endossar a conversação entre aqueles que convivem com o quadro de surdez se faz presente nas aulas na rede regular de ensino, todavia, em status de exceção, o que inclui, muitas vezes, a inexperiência de professores diante de um aluno com deficiência e sua polissemia gestual. Há turmas cujo foco é a própria instrução da língua de sinais, em que o educador geralmente é falante ativo do português e aplica modelos comparativos, pautados pela interlíngua.

A translinguagem, que consiste no deslocamento entre estruturas e sistemas linguísticos distintos via práticas transcendentes, assume uma natureza transformadora, que oportuniza a produção de sentidos alicerçados por determinados repertórios. Refere-se “à prática pedagógica de empregar as duas línguas do bilíngue na sala de aula de forma fluida e dinâmica” (Scholl, 2020, p. 2), necessária uma vez existentes as situações dialógicas.

A título de esclarecimento, fala-se aqui de dialogismos informais, espontâneos, fortuitos, irreptíveis, típicos do cotidiano, e da formalização de enunciados pré-estruturados, debruçados em documentos mais complexos e replicáveis, respectivamente (Bakhtin, 2003). Na esteira da dialogicidade, cabe lembrar que “as línguas de sinais não usam sons, mas ninguém pode negar que haja uma organização nos sinais usados, regras combinatórias para eles [...] Tanto os sinais como os sons são organizados e regulados por um sistema abstrato” (Fiorin et al., 2003, p. 9-10), de particularidades percebidas e reproduzidas.

As esferas linguísticas, extralinguísticas e paralinguísticas se baralham no hermetismo que caracteriza as relações humanas, a incluir dialetos específicos, regionalismos, coloquialismos e a funcionalidade conotativa da languaging. Os dois últimos exemplos, em particular, correspondem a dificuldades expressivas no aprendizado da língua portuguesa para surdos, à vista da objetividade que as Libras possuem em comparação ao português. Logo, transcende o meio verbal, a abranger “a comunicação pelos sinais, a comunicação por gestos, a comunicação pelos movimentos corporais do indivíduo” (Castilho apud Cortez; Xavier, 2003, p. 53).

Mesmo que os quadrinhos em geral, assim como a maioria das mídias de entretenimento de massa, excluam a comunidade surda ao categorizá-las como “línguas minoritárias”, é concordante que a conscientização mais bem consolidada do gênero (Luyten, 1987) sugere traquejos que exercitam a criatividade, a capacidade crítica-interpretativa e, sobretudo, fortificam o vocabulário de quem lê. Mais que isso, oportunizam a prática ou, no mínimo, dão um princípio de estímulo à leitura de outras mídias escritas – a incluir tão prezada literatura tradicional. “[...] O texto, objeto da semiótica, pode ser tanto um texto linguístico, indiferentemente oral ou escrito, quanto um texto visual, olfativo ou gestual, ou, ainda, um texto em que se sincretizam diferentes expressões, como nos quadrinhos [...]”. (Fiorin et al., 2003, p. 188). Mas, como se pensar, assertivamente, em possibilidades de ensino-aprendizado a partir do uso estratégico dos quadrinhos como subversão à escassa existência de metodologias atrativas para o ensino da língua portuguesa?

Vivemos em uma realidade maculada pela ausência de bibliotecas básicas, quem dirá as que contemplem HQs, junta a falta de recursos e estrutura, principalmente nas escolas públicas. Segundo o Inep, somente pouco mais da metade das escolas do país têm uma biblioteca (apud Moreira, 2022, on-line). As existentes encontram-se precárias, improvisadas, pequenas e pouco acolhedoras. Agrava o fato da demanda não se resumir à “constituição de acervos e a promulgação de leis que permitam o acesso a quadrinhos, mas também são necessários procedimentos de formação dos educadores no que diz respeito à linguagem das HQs” (Paiva, 2017, p. 74).

Como um ponto de partida, sugerimos então cinco obras quadrinísticas e respectivas abordagens que podem ser adotadas em sala de aula na forma de material paradidático no Ensino-Aprendizagem da Língua Portuguesa para Surdos:


Obra

Ficha técnica

Contextualização



Saiba Mais! Turma da Mônica 1ª Série - n° 112


Autoria: Roteirista não informado/Mauricio de Sousa Produções

Editora: Panini Comics

Periodicidade: mensal

Data de publicação: Jan/2017

Quantidade de páginas: 36

Encadernação: Lombada com grampos

Classificação etária: Livre, com foco no público infantil

Formato/mídia: Edição física disponível nos sebos, sites especializados e comic shops (edição digital e atualizada da revista está disponível no aplicativo Banca da Mônica)


Mônica, a partir da metalinguagem, estabelece diálogo didático e direto com o leitor, em conformidade com o estilo didático do título Saiba Mais com a Turma da Mônica. Os textos são curtos, instrutivos e educativos, voltando-se para crianças pequenas. Esse público-alvo não impede sua leitura utilitária por parte de jovens, adultos ou idosos. Há uma ordem cronológica direta, que narra a ida de Mônica até sua escola. No caminho, a protagonista exercita o diálogo cotidiano para com o leitor e demais personagens coadjuvantes, que se encontram no percurso e na própria sala de aula. Ações são explicitadas por quadros duoespecíficos, como o primeiro. “Estou indo à escola”, diz Mônica, que já caminha de uniforme e mochila nas costas. Cenas nesses moldes ajudam o surdo a perceber a ação verbal posta no gerúndio, decodificada pela imagem. O Tema da inclusão social cria nítida representação para leitores de diferentes deficiências, a incluir a própria surdez. Após se encontrar com o personagem Humberto, surdo, Mônica explica como o desconhecimento da fonética das palavras dificulta a aquisição de uma língua. A página 11 traz o alfabeto dos sinais minuciosamente, o que estimula seu aprendizado por parte de leitores não surdos. Na aula, a professora explica os preconceitos sociais como práticas condenáveis. A importância da educação também é salientada. Além de verbos, expressões adjetivas também se mostram centrais na narrativa. Os passatempos e atividades que acompanham a revista substituem o modo imperativo por sugestões interrogativas, carregadas de conectivos em cada construção lexical. Ao menos dois dos exercícios estimulam o aprendizado de palavras, como “cidadão”, “acessibilidade”, “cultura” e “audição”. O nível de organização discursiva simples é trunfo para possíveis aplicações didáticas. Atualmente a edição pode ser encontrada por custos promocionais e acessíveis, principalmente em sebos e eventos, como Comic Com Experience (CCXP).



Cumbe (Graphic novel)


Autoria: Marcelo D´salete

Editora: Veneta

Periodicidade: Edição única

Data de publicação: Março/2018

Quantidade de páginas: 176

Encadernação: Lombada quadrada

Classificação etária: Idade mínima de 12 anos, com foco no público jovem e adulto

Formato/mídia: Edição física disponível nas livrarias, sites especializados e comic shops (edição digital em formato eBook Kindle disponível em aplicativos de leitura)


A obra do quadrinista brasileiro Marcelo D´salete, professor da Escola de Aplicação da FEUSP, aborda a resistência negra no período colonial brasileiro, sendo vencedora do Eisner (2018), maior prêmio de quadrinhos do mundo. Disponível em países como Portugal, Estados Unidos, França, Itália e Espanha, o desafio de interpretar histórias densas e maduras é válido para jovens e adultos, a começar pelo reconhecimento internacional da qualidade da obra e seu papel em visibilizar outra luta social pela integração e descolonização de práticas vigentes na contemporaneidade. O álbum se divide em diferentes narrativas, conectadas por temática e estilo. A versão em língua portuguesa nos revela poucos diálogos, que, por meio de uma combinação aditiva, as palavras ampliam o sentido das ilustrações e contribuem para uma cronologia por vezes dúbias, não lineares e impactantes. As abstrações visuais estão impregnadas na imaginação poética do autor, o que desafia quem lê a compreender metáforas visuais e metonímias, ou apenas assimilar com atenção contextos não tão explícitos. A HQ permite transdisciplinaridade com o ensino da história graças à uma gama de intertextualidades e curiosidades ao final do livro, e conta com formas verbais imperativas, típicas do cenário da escravidão no Brasil. O uso de flashbacks, simbolismos (a incluir certos léxicos) específicos da ancestralidade africana e termos datados historicamente compõem um desafio difícil e simultaneamente prazeroso de decodificação entre intérpretes, professores e alunos. Além do aprendizado histórico e idiomático, podem ocorrer amplos debates sobre o material lido via língua de sinais, em rodas de debate sobre a obra.



Turma da Mônica 3ª Série - n° 31


Autoria: Edson L. Itaborahy/Mauricio de Sousa Produções

Editora: Panini Comics

Periodicidade: Quinzenal

Data de publicação: Maio/2023

Quantidade de páginas: 52

Encadernação: Lombada com grampos

Classificação etária: Livre, com foco no público infantil

Formato/mídia: Edição física disponível nas livrarias, sites especializados, sebos e comic shops (edição digital disponível no aplicativo Mônicaverso)


Novamente, indica-se uma publicação pela representatividade como coeficiente de atração ao público-alvo abordado neste artigo, pois sabemos que “um indicador infalível de envolvimento do público é o grau em que este se identifica com os personagens da história” (Mccloud, 2005, p. 42). A edição apresenta a novata Sueli, menina de 9 anos, descrita por Mauricio de Sousa como esperta e inteligente. Surge notoriamente com o objetivo de estimular o uso da Libras e atua essencialmente como uma personagem inclusiva, que, ao contrário do Humberto, que não gesticula conforme as Libras, colocará seu repertório linguístico-visual em atividade nas histórias da Turma da Mônica. Na escola, Mônica, Cebolinha, Cascão, Magali e Xaveco são apresentados a uma família diversificada: Jairo, o novo professor de educação física descendente de sul-coreanos e seus filhos, Lipe (Felipe) e Sueli. Tem Iago, o caçula, e Natália, mãe e engenheira de software que amplia a representação negra nas revistas. Além de irmão, Lipe é intérprete da menina, cujos movimentos com as mãos são construídos por códigos semióticos típicos dos quadrinhos, conhecidos como linhas cinéticas. São traços suaves, que indicam o movimento ou a trajetória de seres e objetos em ação, agregando dinamismo à narrativa. A premissa aqui é não entregar uma história puramente didática, mantendo jornadas atrativas e enredos igualmente virtuosos. Como parêntese, é válido indicar como na grande maioria das histórias da MSP as onomatopeias se fazem presentes, cuja relativa arbitrária pode contribuir ao leitor surdo com dada fluência na L2 simular em sua mente o ruído que é simbolicamente representado – ou se aproximar dele psiquicamente. A trama é direta, segue cronologia linear, evidenciam tempo pelo movimento espacial de cada evento e, durante os dizeres de Sueli, os quadros duoespecíficos operam para que uma linguagem traduza a outra, consoante ao contexto discursivo. Todavia, as Libras aqui seguem minoritárias em comparação à verbalização em português. Sueli é apresentada como perspicaz e habilidosa, em clara intenção do roteiro em evidenciar suas múltiplas competências para torná-la uma representação positiva.



Graphic MSP n° 38 – Xaveco: Vitória


Autoria: Guilherme de Sousa/ Mauricio de Sousa Produções

Editora: Panini Comics

Periodicidade: Edição única/selo esporádico

Data de publicação: Julho/2023

Quantidade de páginas: 96

Encadernação: Capa dura/cartonada

Classificação etária: Livre, com o foco em públicos diversos, a priorizar os leitores mais maduros

Formato/mídia: Edição física disponível nas bancas, sites especializados, livrarias e comic shops (previsão de lançamento digital no aplicativo Banca da Mônica)


Vitória faz parte do selo editorial Graphic MSP, também da Mauricio de Sousa Produções, que traz releituras independentes das personagens realizadas por quadrinistas brasileiros renomados. Seus estilos e temas variam a cada número, se direcionando, principalmente, para um público jovem e adulto. Xaveco é o típico coadjuvante (ou secundário) das histórias de linha, o que se tornaria piada recorrente. Dessa vez, assume o protagonismo, num enredo sobre superação, autoestima e inclusão – não no sentido da integração de grupos menosprezados em sociedade, mas de alguém ignorado no dia a dia enfim indo de encontro a sua valorização. Não se fala de uma história didática ou que aborde a deficiência auditiva. Tampouco tem relação com as libras ou o ensino de quaisquer idiomas. E o ponto é que não precisa ser. Uma boa publicação pode moldar-se como material (para)didático igualmente produtivo e enriquecedor. A recorrência a recordatórios – textos isolados em requadros que narram acontecimentos ou os alargam – na primeira pessoa carregam a intimidade entre personagem e leitor; os post-its no quarto de Xaveco ilustram bem o uso de verbos nos gêneros primários/cotidianos; discursos são constantemente interrompidos de modo a similar a oralidade; a dislalia de Cebolinha é uma atipicidade a ser percebida; a repetição silábica como signo representativo de gagueira; uso criativo das tipografias textuais; metáforas visuais lúdicas e divertidas. Tudo isso, analisado com propriedade, converte-se em material de cunho pedagógico, útil também ao aluno surdo.



A Voz do Silêncio - Edição Definitiva nº 1 ao 4

Autoria: Yoshitoki Oima

Editora: Newpop

Periodicidade: Série completa

Data de publicação: Novembro/2020 a fevereiro/2022

Quantidade de páginas: 392 em cada volume, com exceção do nº 4, que tem 400

Encadernação:

Capa dura

Classificação etária: Idade mínima de 16 anos, com foco no público jovem e adulto

Formato/mídia: Edições físicas avulsas disponíveis em sites especializados, livrarias e comic shops (leitura digital indisponível, com ressalvas para a pirataria on-line)


O sentido de leitura direita-esquerda típico dos quadrinhos nipônicos, os mangás, costuma ser um entrave inicial rapidamente superado por fãs assíduos do gênero em solo tupiniquim. Há nestas leituras o contato com a cultura japonesa e suas peculiaridades, que, em A Voz do Silêncio (Koe no Katachi, no original), inclui conversações na língua de sinais japonesa – JSL, o que o torna um mangá bilíngue. Assim como as Libras, são influenciadas pela língua-mãe do país, além de historicidades, sotaques, regionalidades e dialetos. Embora improvável (não impossível) que um usuário de Libras entenda esses momentos, a versão em português (Brasil) da obra conta com legendas e notas explicativas, passíveis de entendimento. A inclusão social de surdos e sua retratação ganha mais nuanças: o pequeno Shouya é um bully, que maltratava sua colega de classe, Shouko, uma aluna novata surda. As cenas incluem o deboche ante as dificuldades da jovem em oralizar enunciados gramaticais. Seis anos depois, os papéis se subvertem e Shouya torna-se uma vítima solitária do bullying. Agora, o rapaz busca sua redenção com o perdão e reaproximação com uma popular Shouko. Além de premiada, a série possui adaptação fílmica (2016) em animação japonesa (animê) e aborda a temática da solidão/depressão com o uso de recursos semióticos, dentre eles um atípico e engenhoso: uma espécie de “X” é sobreposto aos rostos das personagens que não ocupam um lugar de sentido, afeto ou reconhecimento na vida de Shouya. A reabilitação de Shouya em sociedade, especialmente com os antigos colegas de turma e com Shouko, compõe uma história tocante, inclusiva e encantadora.


Fonte: Autor.




Considerações finais



As Histórias em Quadrinhos subvertem a educação bilíngue com o prazer da leitura e com o binômio entretenimento-representação. Suas enrijecidas possibilidades de combinação entre o verbal e o não-verbal, adaptáveis a perfis de leitor distintos, contribuem para a formação linguística de deficientes surdos, ao mesmo tempo em que contribuem para seu desenvolvimento comunicacional, informacional e, em especial, a aquisição da língua portuguesa como L2. A artificialidade dá lugar ao lúdico, ao imaginativo e ao estímulo intelectual. Todavia, uma inclusão efetiva dos quadrinhos na educação bilíngue segue um cenário utópico, seja pelo desprezo, arrogância ou despreparo que afastam as HQs das escolas, ou, somente, pela dificuldade exacerbada de se aprender um repertório simbólico mais próximo do inalcançável do que de sua língua materna – ainda mais a “ginga” brasileira.

Aos quadrinhos, em sua maestria e potencial, devem-se somar os fatores interpessoais do intérprete ou aprendiz, suas vivências, conhecimento prévio da semântica e da pragmática para que por último – e só por último – o texto entre em contato com o leitor a estabelecer relações de sentido e compreensão. A legitimidade da ação pedagógica, como salientado por Fábio Paiva (2017), requer convicções e o agir do eu, do tu e do próximo. A luta por espaço e reconhecimento segue para que se possa conversar sobre quadrinhos longe de conotações negativas ou da intolerância e desrespeito a quaisquer grupos em estado de opressão. Para isso, deve-se falar sobre elas, inclusive nos quadrinhos. É controverso, mas o que seria esse gênero tão diverso se não uma “porta” para contínuas discussões? Neste caso, “um brinde ao grande debate”. (Mccloud, 2005, p. 23).


Referências


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